domingo, 10 de setembro de 2017

“TENHO FETICHE EM FOTOGRAFAR PORNOGRAFIA”


carreira, vida pessoal e polêmicas do fotógrafo, cineasta e professor Gabriel Felsberg



Por Nicollas Barbosa

Na entrevista, realizada em uma das salas da Faculdade de Comunicação FAPSP, onde dá aula como professor de fotografia, Gabriel Feslberg conta de uma maneira espontânea e aberta sobre as dificuldades, mudanças de plano, inspirações e motivações de sua carreira profissional, sem deixar nos contar quais os planos futuros para sua produtora.
"Fotografia é a arte de manipular e transformar a realidade no que quisermos" Formado em Rádio e TV pela UniFIAM/FAAM e pós graduado como filmmaker pela London Film School. Começou em 2003 como estagiário, atuando nas produções de Asahi, Asics, EastPark, Ray Ban, BMW, Radio One e outras. Trabalhou na minissérie da RBS “A Ferro e Fogo”, atuou no curta “Ally ou need is Love” premiado em diversos países. Multifacetado participa em diversas áreas, desde o roteiro a finalização dos projetos. Com mais de 200 produções na carreira, entre a publicidade e a fotografia autoral em vários países. Em 2012 fez sua primeira exposição no MuBE, intitulada de “mesmo nos momentos mais silenciosos”, continuou trabalhando como fotógrafo publicitário  e viaja nos tempos livres para fazer suas fotografias. Neste ano fez sua segunda exposição “Ao meu redor” com fotos em preto e branco só do Brasil. Desde o ano passado se juntou a Marcos e Menescal e Roger Anderson na Blind Monkeys onde é responsável pelo desenvolvimento de novo conteúdos. Em Fevereiro de 2015 deu aula de fotografia na faculdade de comunicação FAPSP para turmas de Radio, TV e Internet, Publicidade e Jornalismo.
Como foi sua experiência ao morar no exterior e estudar em uma das duas únicas escolas de pós-graduação reconhecida pelo órgão de formação indústria cinematográfico do Reino Unido como centro de excelência.
Gabriel Elias Felsberg - Então, a escola se chama London Film School, ela se chamava The London International Film School. Eu procurei a escola porque eu havia feito alguns cursos de cinematografia, um em Nova York e outro em Los Angeles. Quando estamos aprendendo cinema, entramos na área – pelo menos eu entrei – não pensando em ganhar dinheiro, mas pensando nisso mais como uma vocação.
Tinha um lado da indústria americana que me incomodava muito, não me via querendo participar de filmes muito grandes onde tudo parece ser industrializado, empacotado e lançado, foi ai que pensei no cinema europeu. Porra, a Inglaterra é uma Meca do cinema na Europa e esse lugar me pareceu bacana.
É muito caro, custa sete mil libras a cada trimestre e são seis trimestres. Eu estudava o dia todo, não ia trabalhar nem nada, meu pai pagou os estudos e minha estadia lá então eu entrei de cabeça. Juro, eu entrava às dez horas da manhã e saía às cinco da tarde e não saía do estúdio. A gente aprendeu tudo; de refletor à montar cenário, aprendemos a produzir, escrever roteiro, criticar. Eu já era um cinéfilo e lá é um lugar de cinéfilos, onde pude me identificar bastante com as pessoas que estavam estudando lá, porque ao mesmo tempo que a gente se conhecia e criava novos relacionamentos a gente fazia filmes. Pra gente foi muito gostoso aprender porque sempre amamos isso, é como se você se juntasse com um grupo de pessoas que nem você, que tem os mesmos interesses.
Tem disputa de egos? Dava briga? Claro! Depois de cada filme ninguém queria mais olhar um pra cara do outro, então a gente tinha pequenos intervalos, de uma ou duas semanas. Todo mundo está pagando o mesmo dinheiro, mas um é diretor, o outro é produtor, o outro vai fazer direção de arte, o outro vai editar então às vezes a pessoa se  sente um pouco menosprezada dependendo da complexidade do filme.
Fizemos película do começo ao fim, então rodamos em 16mm preto e branco sem som; 16 mm colorido com som, que foi só depois da pós-produção quando estávamos editando, depois documentário em película. Também rodamos preto em branco 35mm com som no set, metade do filme no set e metade fora, depois 35mm colorido metade set metade fora e depois ainda com som. O último filme era metade do dinheiro que a gente pagava para o curso, eles devolvem essa metade e nós podíamos escolher fazer o filme aonde a gente quisesse. Podia juntar orçamentos com os outros alunos e fazer um grande filme. Você tinha que escrever uma crítica complexa pra cacete, tecnicamente falando o que você fez no filme de A a Z.
Eu acredito que uma experiência dessa transforma a vida de qualquer um, aliás, tem depoimento meu no Youtube falando como o curso me mudou, porque a gente entra assim: “Ah eu sei cinema, vou chegar aqui e vou ser O Cara”, aí você vê que você é um merda [risos] não sabe nada, acha que sabe alguma coisa e tem um monte de coisa que não sabe. Eu não sabia nem fotometragem direito, de chegar no set usar um fotômetro e fazer medição de luz; não sabia nem colocar a luz direito no set, não tinha a menor noção do que era colorir um filme, do que era dirigir um ator, o que acabou sendo muito legal porque em filme só se aprende errando e acho que na área de vocês, de comunicação, é a mesma coisa. Foi uma experiência de vida que mudou a minha vida, eu voltei de Londres no começo de 2010 e desde então voltei pro mercado, mas devido à baixa no mercado decidi me garantir mais no segundo emprego, que é dando aula, então foi assim que eu apareci aqui.
Qual foi a maior dificuldade que você passou nessa sua trajetória?
Gabriel - Eu não cheguei a passar fome, porque eu venho de uma família muito boa, mas em umas quatro ocasiões eu não tinha dinheiro para fazer supermercado em casa, assim, não ter nada. Eu não faço nenhuma compra absurda, normalmente é Sucrilhos, iogurte, coisas para café da manhã e à noite... Estava liso e devendo no banco, eu falei: “Mãe, me ajuda”. Passei isso algumas vezes.
Eu não tenho mais carro, tive que vender porque eu estava devendo dinheiro, desde então eu ando de metrô. A minha maior dificuldade foi eu mesmo, eu fui a minha maior barreira. Eu sempre fui muito cabeça dura, muito artista, vou viver pela arte, vou sangrar pela arte, vou fazer tudo pela arte. Eu ralei bastante para poder chegar aqui porque a todo o momento eu tive que me provar - de alguma maneira – que eu era bom o suficiente para fazer o que eu estava fazendo, e no mercado as pessoas querem te colocar dentro de uma caixinha: “Ah você é o cara que fez Mattel? Ah, então só vou te colocar pra fazer brinquedo”. Não! Eu consigo fazer um monte de outras coisas, não só brinquedo. Quer fazer chocolate? Eu vou fazer chocolate. Quer fazer um filme de pós-produção? Vamos, porque assim, eu tenho talento o suficiente para fazer qualquer coisa. O pessoal pensa assim: “Ah esse é o cara que só faz filme bom de carro”, eu não vejo as coisas assim, eu vejo assim que, cada filme tem o seu preço, tem a sua equipe, tem a sua dimensão e tem o valor que custa e tem que ter dinheiro para fazer certas coisas senão, não dá, não é pra fazer tudo juntando os amigos porque vocês quebram a cara. Eu tive várias dificuldades profissionais nesse sentido, mas eu nunca... Nunca me pegou pra falar assim: “Porra, vou desistir” (SIC) por conta das dificuldades profissionais. Onde realmente me deu um baque foi quando eu falei assim: “Porra, eu tô sem dinheiro pra mim. Não tenho dinheiro nem pra comer, não posso sair, não posso ir a um cinema”, isso aconteceu algumas vezes comigo, e ainda mais tendo um contraste, eu tenho um pai super rico, minha mãe vive super bem e eu não podendo fazer as coisas. Normalmente todo mundo pagava para mim e eu estava lá numa condição pior, então eu me sentia um pouco, às vezes, menosprezado por conta disso. Eu lembro muito bem o diretor da escola em Londres falando: “Em média, quem se dá bem, vai demorar no mínimo dois anos pra conseguir entrar pra valer na indústria, está trabalhando e ganhando algum dinheiro.” Eu estou demorando quase cinco, então assim, foi muita persistência da minha parte.
Tem algo ou alguém que você sonha em fotografar e por quê?
Gabriel - Eu gosto de fotografar paisagens não tem pessoas, não sou do tipo que gosta de fotografar personalidades do tipo Gisele Bundechen, eu sou do tipo que gosta de fotografar coisas esquisitas, por exemplo, tenho o fetiche de fotografar pornografia, eu acho super bacana [risos]. Então eu gosto de fotografar natureza, viajar por um país passar uns 10 dias imersos naquele lugar e voltar com um material rico, já pude fazer isso duas vezes quando estava com mais dinheiro então gosto de viajar e fotografar ir a uns becos, sou megalomaníaco.
Você em disse uma entrevista, que foi através do cinema que nasceu essa vontade de fotografar, além do cinema você teve outras influências?
Gabriel - Eu comecei nas artes como guitarrista de uma banda de rock quando terminei a escola e troquei algumas vezes de grupo, fui pra noite por uma época quando eu fiz um dos meus cursos de verão antes de ir para cinema, lá pros anos 2000. Poucas pessoas sabem, mas já fui expulso da FAAP [risos], eu cursava administração depois de  três semestres que eu nem ia direito ,eu tentei porém ia muito mal até que meu professor de matemática financeira particular me disse; cara você é artista vai fazer arte e foi uma loucura ao ouvir que eu tinha uma veia artística, de um cara que é professor de matemática financeira e eu acreditei. Posso até ter sido um tolo de ter acreditado, mas ai tive que me virar ir atrás de uma faculdade poderia ter tentado Radio e Televisão na FAAP, mas nem queria ficar aqui não me identificava com as patricinhas por mas que eu tenha dinheiro e tudo que sou o fodão (SIC) então eu literalmente paguei pra entrar em uma faculdade a FISP [Faculdade Integrada de São Paulo] no Morumbi então entrei e adorei fiz dois anos de comunicação geral e dentro disso tinha algumas opções jornalismo, publicidade, Rádio e Televisão, aí eu olhei e pensei não é que eu sou preguiçoso eu tinha uma dificuldade de aprender pois eu tive um pouco de dislexia [distúrbio que afeta o aprendizado], então eu me embaralho, eu não consigo ler direito então eu pensei qual eu tenho que ler mesmo foi quando disseram que Rádio e Televisão que era mais set e foi a minha melhor escolha porque foi lá que tudo que eu sonhava de criatividade, até porque eu sou rockeiro então amei e logo em seguida consegui um estágio em uma produtora onde um dos meu chefes é sócio. O real motivo o filha da puta [sic] responsável por isso foi Renato Russo porque ele sempre falava que se você acredita você pode você consegue então eu acreditei.
Além do seu trabalho na produtora, tem também a responsabilidade de ser professor. Como é pra você conciliar as duas funções, sendo que ambas exigem muita atenção, tempo e dedicação?
Gabriel - Uau, boa pergunta (risos), eu estou aprendendo. Eu já dei aulas em cursos de workshop, e vi que quando você fala de uma coisa que conhece, fala com propriedade, consegue dar exemplos. Então, dar aula numa instituição, eu fiquei pensando, nossa, vou ter horário, coisa que eu nunca tive, nunca tive férias. Eu nunca tive um patrão, sempre fui estagiário. Aqui é a primeira vez que tenho, é o Miguel, que é um pouco mais novo do que eu (risos). Eu estou achando o máximo, gosto dos alunos. Eu vejo que tem uma dificuldade imensa nas aulas, porque sou uma pessoa diferente do pessoal aqui, mas não me coloco como melhor, ou pior que ninguém, tento entender onde está essa regra, onde a gente consegue conversar. Eu tento abrir a cabeça dos alunos para mostrar que existe um mundo imenso lá fora. Percebo que a maioria tem o hábito da leitura, que é super importante. Para conciliar, no 1° semestre foi mais difícil. Tive que explorar tudo o que eu sei sobre fotografia para criar o conteúdo das aulas. Como mexer na câmera, como configurar, como fazer o foco.  Tive que ligar para um amigo e perguntar “Como eu ensino isso?”, então às vezes a gente conhece muito do assunto e acaba passando por cima de coisas importantes, tive que ter muito cuidado. Entre eu e os alunos, têm uma relação de hierarquia, respeito e profissionalismo. Sempre vi essa profissão como algo nobre. Estou aprendendo aqui a ter disciplina, criei amizade com alguns professores, participo de projetos extracurriculares deles. Eu gosto trabalhar com o que eu faço, fico cansado, mas fico satisfeito, é aquele cansaço bom. Os alunos aqui me reciclam, eu uso muito do que relembro aqui lá na produtora. E na minha vida pessoal
Passando pelo seu blog pessoal, na maioria dos post você é bem descritivo, e explica com muita transparência as dificuldades e o tempo que se leva para realizar um bom trabalho. Durante sua trajetória profissional existiu algum trabalho que chegou a te desesperar por extrema complexidade?
Gabriel - Vários, aliás, quase todos (risos)! O maior problema que eu tenho no set sou eu mesmo. Sou megalomaníaco, gosto de coisas grandiosas. Gravei um documentário, uma semana atrás, lá na minha antiga escola. Tinham cenas extremamente complexas. Teve take (plano, tomada) que precisei gravar umas 20 vezes para acertar, mobilizei minha equipe toda para fazer, demoramos 4 horas para montar tudo. Eu sou meu próprio problema no set (risos). Esse documentário fala sobre tecnologia e a era digital.  Quando a gente cria essas cenas muito complexas, a gente se torna o próprio antagonista. Havia poucos planos para gravar, mas como só tínhamos uma equipe, tínhamos que esperar a mudança dessa equipe para o outro plano. Aparecem também os problemas. Nesse dia mesmo em que fomos gravar, 2 assistentes se acidentaram nas gravações. A velocidade no set diminuiu em 30%, que é muita coisa num set pequeno. Pedi para outro assistente conseguir uns substitutos, mas essas pessoas só chegaram noite. A palavra que você mais escuta em um set é problema! Problema faz parte de fazer cinema. Cada diretor dirige de um jeito. O meu foco é a história. Estou contando uma história. Tem diretor que gosta da prática, de ir, ajudar o pessoal da produção. Eu não, eu iria acabar atrapalhando, fico na minha. Ao fazer filme, fotografia, eu sou meu maior inimigo por ser muito grandioso.
Se você não fosse fotógrafo e produtor, o que você seria?
Gabriel - Na real ou sonhando? [Risos] Sonhando, eu gostaria de ser um astro do rock. Queria ser um Renato Russo, não homossexual, não [risos]. Pra mim a Legião Urbana foi a maior banda de rock do Brasil, foi por onde tudo começou. Eu acho a Legião uma banda muito bem resolvida nos egos, o Renato era o cara, era o líder, era quem escrevia a maioria das letras; ele ainda dividia algumas composições com Marcelo Bonfá e Dado Villa lobos. Existia uma harmonia que funcionava entre eles, quando cada um queria fazer um projeto paralelo, faziam, não interferia com os negócios da banda. Eu gostava muito de como eles ficavam juntos, pra mim eles sempre foram um modelo de empresa, e se eu fosse ter uma banda queria uma parecida. Adoro rock progressivo, por exemplo, Led Zeppelin [banda britânica de rock], mas, aqui no Brasil nunca foi uma coisa que pegou muito. Então, eu queria ser o líder de uma banda de rock, que as pessoas cantassem as minhas músicas e ser o cara [risos]. Sonho de consumo total adoraria.
Profissionalmente hoje eu sou professor e cineasta. Não diria produtor porque sou dono de produtora, e aqui no Brasil acho que o termo mais adequado seria cineasta. Porque eu realmente não produzo nada, eu crio um negócio bacana e falo: “Olha vamos fazer isso aqui?”. Eu ainda tentei por um tempo ser fotógrafo pra valer, e vi que a fotografia comercial sem ser de arte era uma coisa que não me interessava, porque eu achava pobre, eu não queria simplesmente ter só um assunto fosse junto com uma matéria. Percebem que sempre tem uma coisa grande que eu quero e tal? Então, aquilo era muito pequeno pra mim, e também não paga tão bem. Eu não sei se isso é bom ou ruim, mas, eu me vejo só como cineasta. Vocês me fizeram lembrar-se de uma fala do Freddie Mercury que ele dizia: “Se eu não fosse músico eu não sei o que eu faria, porque essa é a única coisa que eu faço bem”. E eu espero um dia ser um ótimo cineasta, não quero ser só um cara razoável. Eu quero ser realmente muito bom, eu me esforço muito, porque quero ser um dos melhores e é essa a minha pretensão. Quero realizar coisas que façam as pessoas pensarem, se divertirem, e que seja uma referência. Quando eu faço as minhas coisas eu tomo esse cuidado, porque estou fazendo um trabalho para o público. Eu já fiz filme pra só mim, que apenas eu entendia aquilo... e é chato, porque filme é comunicação, é pegar o aqui e gritar. Por isso você tem que conversar de uma maneira que as pessoas te entendam, e não só as pessoas aqui do Brasil, mas, do mundo. No documentário que irei rodar por São Paulo, Nova York, Londres, Moscou e Roma... vou falar da internet no mundo. Eu gosto de assuntos mundiais. E Eu decidi virar artista, senão eu iria virar qualquer outra coisa, porque eu queria colocar minha digital em alguma coisa e poder ouvir: “Olha o Gabriel esteve aqui e deixou algo muito bacana”.
Se você pudesse voltar no tempo e fotografar um momento histórico, qual seria e por quê?
Gabriel - Olha, tem um momento histórico que eu acho sensacional na história da humanidade do século passado, que foi a queda do muro de Berlim. Ter fotografado aquilo ia ser um negócio muito bacana. Eu gosto, por exemplo, de guerras, e já vi documentários como “A guerra do Vietnã” e “A segunda guerra mundial”, mas, eu acho muito perigoso fotografar guerra. E já conversei com fotógrafos de guerras atuais, e é realmente muito perigoso. Eu acho super bacana, mas não iria me meter em lugar desses, porque eu não quero levar bala. Não iria fotografar campo de concentração, essas coisas... Porque eu não tenho essa coisa como Sebastião Salgado de fotografar e fazer a estética da miséria, não tenho. Sou um cara diferente de muitos de vocês, eu de certa forma vivo no meu próprio mundo. Gosto de coisas sociais e que tem a ver com o mundo todo, mas eu não sou um cara engajado socialmente. Por exemplo, alguém diz: “Vai ter uma manifestação na Av. Paulista contra a presidenta Dilma”. Tá bom, vamos lá, vamos fazer números, vamos protestar. Porém, eu não estou lá engajado de forma que saiba exatamente tudo que está acontecendo e tal. Por exemplo, em um filme meu de ficção nunca tem nada social, NADA. Já nos documentários sim. Os filmes de ficção que eu tenho roteirizado é sempre o indivíduo passando por um problema que ele mesmo é o próprio antagonista, ou ele se envolvendo numa trama que corre algum risco de vida. Eu gosto de coisas suspensas psicológicas de uma pessoa ou duas. Eu nunca faria filmes como: Cidade de Deus ou Tropa de elite. Apesar de serem filmes espetaculares e maravilhosos. Mas, eu não sou o cara que iria conseguir preparar um filme desses e entender como que o estado se relaciona com a polícia, e como eles se relacionam com a população. Eu não tenho a menor noção do que é uma vida na periferia, então eu não sou pretensioso a querer me botar nos pés de alguém que mora num lugar desses e querer retratar algo dessa pessoa. Então eu vou fazer coisas que tenham a ver com as que eu vivi, daí por mais que vocês nunca viveram dessa maneira e nunca viveram a minha vida, conseguiram entender que existe uma veracidade naquilo. Se eu fosse tentar fazer alguma coisa da vida de vocês ia ficar tudo errado, eu não entendo minha cabeça não funciona desse jeito. Eu posso me emocionar, eu consigo me relacionar em outros níveis como de indignação, por exemplo: “Pô! Policial filha da puta que aborda de uma maneira totalmente errada o cara da periferia”. Fico indignado. Mas não sei o que é isso. Tenho a noção que eu posso ajudar e levantar a bandeira. Vejo isso muito aqui FAP, porque a maioria dos trabalhos são sociais. É o morador de rua, é o cara que não tem dinheiro pra “não sei o que”, é o prédio destruído, é o sem terra. Eu imagino que isso possa ser um pouco do cotidiano de muitas pessoas aqui dentro, então eu me sensibilizo com isso, e tenho que dar uma voz como professor de que vamos fazer esses trabalhos. Eu dou um apoio pra isso sair da ideia e virar um trabalho, porque isso é importante pra vocês. Eu sendo professor e vocês alunos é muito importante eu dar esse suporte pra vocês irem em frente, porque essa é a briga de vocês, entendeu? E a gente tem que tá aqui para dar o apoio. Pois são vocês que iram dar a cara do futuro do país, vocês são os responsáveis por isso. Cada um tá tendo a sua briga e a sua luta, então é muito importante ter esse relacionamento acontecendo.
Depois de mais de 14 mil fotos como você julga a sua primeira foto profissionalmente?
Gabriel - A primeira foto boa ou a primeira foto? Nossa a primeira foto, vou começar contando como eu comecei a gravar, tinha uma câmera de celular a flip, que fotografava umas fotinhos merda não tinha resolução nem nada, ai fui para um point shot, essas câmeras pequenininhas portáteis com tudo automático, só basta você enquadrar e fotografar e depois fui para uma semi-profissional da Nikon, uma das primeiras fotos que eu tirei que me lembro que foi com a semi, em São José do Xingu e fui na fazenda do amigo do meu padrasto que cuida de gado orgânico, e fotografei o gado e o sol, uma das fotos mais legais que fiz nesta viagem. Tirei uma de um campo de futebol, tipo tinha uma graminha lá e uma trave no fundo de segundo plano, e pensei esta foto saiu bacana, foi uma viagem que me deu confiança e na qual comecei a perceber como funcionava o mundo da fotografia, pois já estava regulando a câmera manualmente e fazendo tudo que hoje eu ensino manualmente para vocês, então acho que ali foi um divisor, mas a primeira foto profissional foi à foto do pássaro que vocês viram branco, para mim esta foi a primeira foto profissional boa, na qual eu pensei agora eu estou onde queria estar, mas assim a primeira foto não existe, o que existe é tudo o que vem para compor a primeira foto e o que se constrói depois.
A primeira foto ela não é só a primeira foto, ela é um conjunto, a foto tiramos das referências que temos ao longo da vida. A minha foto do pássaro é uma foto que foi construída por esta temporada que eu passei na Europa de mochileiro, no Xingu e aí que falei, vou para Noronha fazer a primeira tentativa. Por exemplo, a viagem que fiz de mochileiro para Europa me ajudou bastante com as fotos que tirei em Noronha, na qual me auxiliou.
Expor em qual lugar seria o ápice da sua carreira?
Gabriel – Pinacoteca do Estado é um puta lugar bacana, o MUBE (Museu Brasileiro das Esculturas),  já  é do grande muito legal assim, ter no currículo uma exposição lá, é muito legal, acho que já foi um começo bacana é que eu sou megalomaníaco, o Tate de Londres, seria um puta lugar bacana né, o museu tem perfil, o Louvre ele preserva mais coisas antigas quer dizer ele tem algumas coisas recentes mas, não acho que seria um lugar assim para fotos de alguém que não tem ainda um espaço internacional, acho que o Tate abre espaços, temos no Brasil a SPA que também, abre com frequência, mas acho que a Pinacoteca seria bem bacana. Eu não trabalho com leis de incentivo é só chegar lá e pagar o que eles cobrarem, custa uns 20 mil, claro que faria um coquetel bem elegante para vender minha exposição mais cara.
Teve algum momento da sua vida em que você se questionou se era isso mesmo que você queria?
Gabriel – Vários, não só um, vários, gente não sei se vocês tem esta dimensão eu me considero o patinho  feio da minha família, meu pai que é um dos maiores advogados do Brasil, meu pai é um cara especial no Direito no Brasil, já tem 73 ou 72 anos e é um cara que já fez coisas muito importante em termos do direito, ele desde o começo da carreira com escritório Felsberg Advogados, sempre foi o cara, teve sócios como Nelson Manrrige um dos maiores advogados trabalhista do Brasil, teve Carlos Miguel Aidar um dos maiores Tributários do Brasil e também diretor esportivo, Sergio Amaral o embaixador da Alemanha e trabalhou com Fernando Henrique, Maria da Graça que começou como estagiária dele e hoje é uma das sócias e uma das expert de fusões e aquisições no país, hoje o escritório do meu pai tem quase trezentos funcionários então um andar inteiro, fica na cidade do Jardins com Mario Ferraz, um prédio novo tem uns 200 e tantos funcionários. Tem escritório no Rio em Campinas, tinha na Alemanha, dois nos Estados Unidos, na China é muito grande meu pai só mexe com coisas corporativas mega, ultra, máster, então eu venho de uma família que assim seguiu os mesmo passos, assim sou o patinho feio eu sou o artista, o rockeiro, o maluco, mas eu sou o cara mais normal da minha família sabe, por mais que eu seja o porra louca, por mais que eu fiz eu faço não sei o que, eu sou o cara que não tem medo de quase nada, eu não sou muito ligado a minha família, até por que foi o jeito que eu fui criado, não somos uma família que fica se ligando, um não liga para o outro, eu passei dois anos em Londres e falei com meu irmão mais velho acho que umas duas vezes, não falo com o meu irmão mais velho, não somos amigo, mal falei com meus irmãozinhos, meu pai e minha mãe me ligavam uma vez na semana, sou muito da vida fui criado para o mundo, eu ser artista é tipo cara você quer ser pobre, olha o que você está perdendo, perder tudo isso por um sonho, tipo como você vai pagar suas contas então este é o que se passa na cabeça deles, eu luto todo dia eu tenho que provar para mim, para minha família para a minha noiva tipo, porque ninguém entende o que eu faço, não tem um cara na família que entende, tenho um primo o Chico que foi um cara que cuidou de objetos agora no filme que eu gravei, tem algumas coisas mais de artista e tudo, ele faz eventos e tudo, a minha prima trabalhou 20 anos na Bayer, tenho uma prima que tentou ser artista mas hoje mora em Londres e é guia de museu se formou em artes plásticas na FAAP, então assim eu não tenho referencia em casa no qual eu posso realmente quero fazer isso aqui, eu acreditei realmente desde o começo no Renato Russo e falei olha eu vou fazer essa porra. Todo dia eu me questiono se é isso que quero fazer da vida, por isso faço terapia foi a única coisa que pode me manter seguro, em casa não conversamos muitos, tem raros momentos de família no qual pergunta que é uma coisa da minha noiva que eu gosto muito, a família da dela é extremamente o oposto ele veio de uma família classe média baixa, ela é rica a família dela vem e abraça, é muito legal eu acho super divertido isso, tem um monte de mulher lá que fica me paparicando e assim eu adoro, eu gosto muito de gente assim, porque eu não iria querer ficar em um ambiente frio, trabalhando com o que eu trabalho, eu nunca quis fazer o que meu pai trabalha porque assim ele chegava em casa com cara de morto vivo, vou dormir estou muito cansado, então é assim, uma luta né, eu decidi não conversa com meu pai ou com a minha mãe, meu pai nunca me deu um dinheiro ele apenas pagou as minhas contas, eu estava quebrado ele ia lá e me tirava do zero, estou devendo uns 200 mil para o meu pai. Todo dia é uma luta, moro sozinho mas em breve quero casar com a minha noiva quero ter uma família com ela, quero que meu filho estude na mesma escola que eu estudei. Cada um de nós tem um desafio na vida. Não é porque eu cresci numa família influente que eu não tenha dificuldade acho que todos tem dificuldades, acho que as dificuldades estão em todos os níveis e você não pode pisar na bola até chegar ao momento e mesmo quando você chegar no momento terá alguém que vai querer te puxar o tapete, isso acontece com todo mundo é com pouco “dimdim” e com muito “dimdim”, então assim quando mais cedo estivermos alerta a quanto isso saberemos nos proteger com todos, é uma luta diária. Não penso mais em desistir, já passei por esta fase, existe um momento na nossa vida que se chama ponto sem volta a gente cruza aquilo e penso agora você vai, tipo dá para mudar de carreira aos 40 anos dá aos 50, claro que da.

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